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Cânhamo: a fibra que pode trazer sustentabilidade na indústria têxtil

rafagdionello

A fibra de cânhamo, derivada do caule da cannabis, é uma das fibras têxteis mais antigas da humanidade, com registros de uso por pelo menos 12 mil anos. A Cannabis é uma planta que historicamente vem sendo usada para diversos fins, tanto medicinais, como para produção de roupas, bioplásticos, alimentos, a fibra do tecido é apenas mais uma de sua infinidade de possibilidades.


Não precisa de agrotóxico, gasta apenas 1/3 de água, que a fibra de algodão tem um ciclo de produção muito mais rápido do algodão e é muito, muito, muito mais resistente. Tanto que a China nunca deixou de produzir e faz a maioria dos seus uniformes feitos de cânhamo que é confundido com maconha com drogas. 


Globalmente, o cânhamo é cultivado em países como Canadá, França e China. Em 2019, foram produzidas cerca de 275 mil toneladas de fibras de cânhamo no mundo. 


Diferente da Cannabis medicinal, a planta usada para produzir tecido possui um teor de THC abaixo de 0,3%, porém ainda carrega o estigma social da criminalização, e até agora não há regulamentação para o cultivo da fibra no Brasil. A regulamentação da cannabis no Brasil poderia gerar 117 mil empregos e movimentar R$26,1 bilhões em apenas quatro anos no país.  No nosso país, há um potencial significativo, com estimativa de 15 mil hectares aptos para cultivo.


"O cânhamo têxtil pode representar uma revolução sustentável na indústria da moda. Com seu baixo impacto ambiental e versatilidade, ele não apenas reduz nossa pegada de carbono, mas também oferece muitas oportunidades econômicas. É uma matéria-prima que alia inovação, sustentabilidade e crescimento econômico", afirmou Rafael Arcuri, presidente da Associação Nacional do Cânhamo Industrial (ANC) em entrevista ao site da revista Vogue Brasil.


Cânhamo tem origem da mesma planta que a maconha, mas é produzido a partir de suas sementes, fibras e caule - Foto: Messe Frankfurt/Yarn Expo Autumn edition

Em questão da sustentabilidade o cânhamo pode ser uma alternativa pelo modo de sua produção que funciona da seguinte forma: As fibras longas extraídas do caule do cânhamo são amplamente reconhecidas por sua resistência e durabilidade ao longo da história. Quando processadas de forma mecânica, preservando seu comprimento e propriedades físicas, essas fibras se tornam ideais para uma variedade de aplicações no setor têxtil. 


O tecido feito a partir dele pode ser considerado um dos tecidos mais ecológicos disponíveis, já que é biodegradável e compostável. Além disso é desperdício zero – cada parte da planta pode ser usada, incluindo as sementes que são consideradas um superalimento, bem como um derivado do óleo de cânhamo que pode ser usado como biodiesel. O cânhamo também pode reter significativamente mais carbono do que florestas e convertê-lo em biomassa. 


Comparativo entre a capacidade de produção do cânhamo com a do algodão

Além de sua força, o cânhamo também se destaca por sua sustentabilidade, especialmente devido aos métodos de cultivo. Para garantir seus benefícios ambientais, é essencial que as fibras sejam obtidas de plantações orgânicas e agroecológicas, promovendo impactos positivos no clima e no ecossistema local. Pesquisas indicam que o cultivo do cânhamo nessas condições contribui significativamente para a preservação da biodiversidade e a regeneração dos solos.


Fibras do caule do cânhamo - Reprodução: Internet

Lá nos anos 90, Yamê Reis usou o tecido de na sua coleção, quando isso ainda era crime usar e contou mais a experiência: “Na minha atividade no setor da moda lá perto dos anos 80 nem se falava de sustentabilidade, eu tinha algumas ações pontuais.  Uma delas foi o cânhamo, né, que já era uma fibra usada fora do Brasil, mas no Brasil ainda existia um tabu, e esse tabu existe até hoje, e foram as ações que eu fiz. Eu fui para Nova York, importei o cânhamo, entrei aqui no Brasil com alguns meios, uma mala de cânhamo, né, do tecido, e produzi algumas peças de roupa com o tecido”. 


Voltando para 2024, em entrevista ao Reset Podcast, Maria Eugénia Riscala, CEO da Kaya Mind, empresa pioneira de inteligência de mercado sobre o setor de cannabis no Brasil falou mais sobre o preconceito com a fibra aqui no Brasil. o cânhamo que chegou no pais pelos povos escravos. 


Colheita do cânhamo - Reprodução: Internet

Para que a produção de cânhamo têxtil seja viável em solo brasileiro é preciso de esforços coletivos, tanto uma legislação mais coerente, como pesquisa e mobilização da própria indústria têxtil para investir em maquinários e estrutura específica para esta fibra. Enquanto este mercado não é realidade no país, é fundamental que haja articulações para disseminar informações relevantes, acabar com o preconceito e pressionar o poder público.


Uma vez que a PL 399/2015, que libera o cultivo da cannabis para fins medicinais e industriais para pessoas jurídicas, já foi aprovada em comissão especial na Câmara e deve seguir para o plenário. Só nos resta torcer para que o cânhamo ganhe a graça dos brasileiros. Apesar disso, já existem marcas brasileiras que utilizam a fibra, seja por meio de importação do insumo ou autorização judicial. Descubra alguns exemplos:


Reserva


A marca de roupas masculina, calçados e acessórios já apostou em uma coleção usando a fibra de cânhamo. As peças são compostas de cânhamo, algodão e, em alguns casos, poliéster. Segundo a descrição do produto: “As fibras de cânhamo têm aproximadamente 8 vezes mais resistência à tração e são 4 vezes mais duráveis do que às de algodão. Assim, as peças também serão e poderão ser usadas por muito mais tempo!” – o que prova a maior durabilidade mencionada acima.


Fotos: Reserva


Ginger


A marca de roupas femininas da atriz Marina Ruy Barbosa também lançou uma coleção com 24 peças produzidas – entre camisetas, bodies e regatas – com cânhamo. De acordo com a marca, esse tipo de fibra serve para dar forma às peças, que são feitas em malha e cânhamo.


Shop Ginger - Foto: Fernando Tomaz


Weedog


Até os pets já possuem peças feitas de cânhamo, como é o caso da marca Weedog, que apoia não só um menor impacto ambiental mas também o estilo dos doguinhos. A empresa usa poliéster reciclado, algodão orgânico, fibras de bambu e cânhamo. Tudo para deixar os animais ainda mais estilosos e, claro, sustentáveis.



Reprodução: Weedog



 
 
 
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Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da PUC-SP com orientação do professor Fabio Cypriano

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